quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Da Favela para o Mundo da Dança

Coletivo Psyco Crew promove curso, intervenção e mostra cultural para crianças e adolescentes no Jaguaré

Por Sheyla Melo

Sair de Guaianases rumo ao Jaguaré para conhecer o coletivo Psyco Crew, é sair do extremo leste para o oeste, uma longa trajetória de mais de 2 horas, incluindo caminhadas, três baldeações, trem e ônibus, para enfim chegar. De uma quebrada para outra, o cenário é muito semelhante. 

As ruas aquecidas pelo sol do fim da tarde harmonizam-se com conversas de vizinhos nas calçadas e risos que explodem nos bares, uma moto estoura seu escapamento, o famoso bololô feito por um menino-piloto, logo a frente uma placa ameaça que esse som é proibido, ela sim é agressiva aos sentidos, desvio os olhos para a batida envolvente de um carro, meus pés navegam rumo ao fim da rua Peixe Boi. 

A meta é chegar na quadra do mutirão, nem precisei procurar muito, meu corpo segue o sons numéricos…5, 6, 7 e 8, é o ritmo marcado em 8 tempos contados por um coral de crianças. Meia quadra com meninos jogando bola e meia quadra com 23 crianças se aquecendo, o calor escapa pelo alambrado chega até alguns adultos que assistem ao lado de fora, um homem passa com o celular gravando e some entre as vielas, um carro diminui a velocidade e olhos curiosos saltam pela janela, um adolescente solta “cê é loko, o tio dança demais” e volta para a bola que baila em seus pés.

Ensaio do grupo das crianças na quadra do mutirão - Jaguaré - Foto: Sheyla Melo

O tio elogiado pelo menino é o educador Peterson Correia, ele que começou sendo influenciado por jovens da mesma vila e agora renova o ciclo, “comecei a dançar com 11 anos para entrar no baile juntos com os caras mais velhos, a primeira vez que vi um grupo dançando no palco pensei eu quero isso para a minha vida”. Peterson já trabalhou como professor de dança em projetos sociais, circulou várias periferias e agora dá aula onde mora e cresceu, em Jaguaré.

Intervenção Cultural - Foto: Psyco Crew
Peterson se vê em muito dos alunos,” tem meninos e meninas que levam muito a sério, um já fez o curso de dança na faculdade”, ele lembra animado a história de pai que ensaia junto com a filha, exemplificando como o projeto não acaba no ensaio ou apresentação, ela vai para as casas e muda relações.

O dia dá seus últimos brilhos, quando a quadra começa a receber a segunda turma, a dos adolescentes, que ensaiam das 19h30 às 21h. No grupos dos adolescente se repete o grupo misto, com meninos e meninas, em uma sociedade que impede que meninos dançem, a revolução acontece de maneira sutil.

Os dois grupos, crianças e adolescentes fazem parte do Projeto Da Favela para o mundo da Dança, patrocinado pelo PROAC, tiveram meses de ensaios cancelados por conta da pandemia, mas retornaram em agosto e se preparam para a apresentação final, para muitos será a primeira vez que sobem em um palco.

Grupo dos adolescentes - Foto: Sheyla Melo

Todas as semanas eles se encontraram para refinar o gesto, sincronizar o passos, se olharem e acertar o compasso coletivo. Muitos ensinamentos vindo de um projeto de dança, conhecer a si mesmo, possibilidade de uma profissão que fuja das engrenagem do precário trabalho dados como única opção aos pobres, aqueles com movimentos repetitivos e sem sentido que permitem pouco desenvolvimento pessoal.
Grupo dos adolescentes -  Favela da três Arapongas - Jaguaré. Foto: Psyco Crew

O desejo é que esses meninos e meninas bailem na vida, seguindo as batidas do coração e as orientações da própria cabeça. E daí também vem o nome do grupo Psyco Crew, Peterson explica que nasce de uma gíria, antigamente se falava “vixi tomou um psyco, ou um apavoro, era uma ideia que a pessoa te dava”, no fundo era uma mensagem forte para você se manter firme e essa mensagem oculta está atrás dos movimentos do grupo que existe desde 2003. 
Grupo das crianças -  Favela da três Arapongas - Jaguaré. Foto: Psyco Crew

O projeto da Favela para o Mundo da Dança acontece desde 2018 e dia 19 de dezembro tem o encerramento, nesses últimos ensaios a euforia tá crescente, cada um se dedicando ao máximo para essa apresentação. 

Além de Peterson Correia, apresentado na matéria, no projeto estão também André Luis, Thayná Leão, Kleber Pereira, Stella Araújo, Sabrina Gama, Rodrigo Brandão, Gabriel Castro, Jorge Joaquim e Peterson Santiago.

Coletivo desenvolvedor do projeto Da Favela para o Mundo da Dança - Foto: Psyco Crew

Serviço:

Mostra cultural do Projeto da Favela para o Mundo da Dança
Dia: 19/12/2021
Horário: das 14h às 17h
Local: Av. Kenkiti Simomoto, 80 - Jaguaré

Redes sociais do coletivo:



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Podcast Ficção

Em setembro nos debruçamos na produção de podcasts de ficção, uma modalidade que vida a nossa criatividade e imaginação, começamos com pequenos contos, um deles foi feito pelo Iago de 12 anos, vem cá ouvir

Até a próxima

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Um projeto e várias conexões em Cidade Tiradentes

Galeria de graffiti e representatividade com Grupo OPNI e a EMEF Saturnino Pereira

Minha Escola é um Museu é o nome do projeto que aconteceu na EMEF Saturnino Pereira até o mês de agosto de 2021. No primeiro momento quando a Cristiane Dias me falou do nome do projeto a primeira coisa que veio na minha cabeça foi "que realmente a escola está tão ultrapassada que vale pena a chamar de museu”, para só depois pensar e problematizar o que essa frase significa. 

Tão pequeno é pensar um museu como um local que só tem antiguidades que ficam guardadas para raras visitas, um jeito melhor de olhar para ele é como um local vivo, ilustre, um instigador de olhares para diferentes direções, inclusive para o presente.


Vivemos tempos em que a ideia de futuro caiu na descrença, pois o tão esperado progresso prometido aos nossos pais e mães não aconteceu, então o passado nos volta como uma fonte que guia os nossos passos para um outro futuro, este anda de mãos dadas com a ancestralidade e os conhecimentos populares. Nesse caminho a escola ser um museu amplia uma nova leitura sobre o papel da educação, principalmente quando ela está em um território cheio de ausências de políticas e equipamentos públicos, como é o caso dessa escola localizada no extremo leste, na Cidade Tiradentes.


Ainda falando sobre o passado. Cotidianamente eu atravesso a Estrada do Iguatemi, local disputado por uma encruzilhada que une destinos ao Prestes Maia, Cidade Tiradentes, Itaquera e Guaianases. Vou muitas vezes dividindo o curto espaço do transporte coletivo com outros tantos trabalhadores, um dia indo para a estação de Guaianases vi aquela escola cheia de adolescentes, e lembrei como era gostoso ter apenas essa tarefa, ir para a escola. Lá se divide o sabor dos lanches, os saberes, risos, vive amores e outras tantas etapas dessa fase tão importante. A vida é pulsante em todos os lugares daquele ambiente. O ônibus segue e guardo essas memórias para dar espaços às preocupações com horários e coisas que tenho que fazer.


Foi então que o tempo da pandemia nos fez não ver a escola. Fechada por dias, meses, chegou a 1 ano e meio. Em junho deste ano, depois de tanto confinamento, fui então ver o projeto Minha Escola é um Museu, sabendo que a EMEF Saturnino Pereira tinha retomado as atividades com grupo reduzido, já na entrada escapava as alegrias das crianças pelas janelas e alguns gritos que pareciam encher o teto da quadra como um balão, em uma sala entre a abertura da porta, um professor cheio de roupa de frio e de pé apontava para a lousa. 


Só que dessa vez a escola estava diferente, uma grande galeria com as imagens de MC Soffia e Elza Soares são algumas das novas artes que fazem companhia para Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus.


Em todas as imagens fica a representatividade do povo preto na escola, só de pensar a pintura da pensadora Lélia Gonzalez [1935 - 1994], a importante intelectual, mineira, ativista feminista e do movimento negro, que construiu ideias que estruturam o pensamento do feminismo negro, da interseccionalidade e aponta para o racismo estrutural. A primeira obra dela, Lugar de Negro, publicada na década de 1960 apresenta a formação do MNU - Movimento Negro Unificado com o ato de denuncia a morte do jovem Robson da Luz assassinado dentro da delegacia 44 em Guaianases. 


Essa documentação feita por ela apresenta uma história convencionalmente escondida pelo mito da democracia racial. Quando Lélia e as demais personalidades apresentadas nesses painéis entram na sala, todo o trabalho artístico ganha outra dimensão, pois associado ao currículo escolar permite o aprofundamento destas questões.


A escolha das cantoras Elza Soares e MC Soffia foram feitas pelos alunos, colocando em harmonia as ações feitas entre professores, alunos, direção escolar e a comunidade do entorno. Além disso, o trabalho feito pelo Grupo OPNI fortalece ainda a importante de lei que obriga o ensino da história da África e afro-brasileira - lei 10.639/2003.


O painel da Elza Soares foi consultado pela cantora, destacando também o poder da música para denunciar e desnaturalizar também o machismo. Para a diretora da escola Rute Reis a Elza é uma das maiores cantoras da humanidade. Já posso até imaginar sua voz ecoando nos corredores e saindo pelo portão nos cantarolar dos adolescentes a caminho de casa. A MC Soffia apresenta que mesmo sendo uma adolescente você pode ser sim uma pessoa importante para a história, sua imagem inspira todos os dias outras meninas, acrescenta a coordenadora Deborah Monteiro.


Outra obra é intitulada Árvore de Memórias, uma homenagem ao Mestre Pê, arte-educador que influenciou na juventude os que hoje já são adultos, como é o caso da Cristiane Dias, que hoje faz esse projeto. Pê busca que crianças e jovens se olhem e valorizem suas histórias, pois sua infância foi rodeada pela cultura popular, assim ele trouxe essa chama aqui para as periferias. Virou Mc, gravou discos e rodou muitos cantos desse país, uma pessoa que transformada pelo seu passado, transforma o futuro daqueles que encontra. O mestre Pê tem sua homenagem nas paredes da EMEF Saturnino Pereira.


Essa escola museu, ultrapassar o tempo unindo pessoas em uma galeria viva, que agita as pessoas, vira uma ponte entre a cultura e a educação, de passado e futuro, une sonhos e utopias de um outro mundo possível.



Texto de Sheyla Melo
Imagens de Gabriel Pires

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Perdido encontra uma nova família - podcast ficção

 Na quarta dia 04 de agosto fizemos nossa primeira produção de podcast de fiçcão, tivemos uma aula incrível com o dublador Luy Campos e gravamos nossa primeira história que conta... ah vou contar não, escuta aí e me diz o que história é essa:

Este podcast foi produzido por Alex Duarte, Luy Campos e Vitor Hugo

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Enquete sobre Vacinas e Máscaras

 Na terça dia 03 de agosto finalizamos a produção da enquete com a opinião das pessoas sobre as vacinas e o uso de máscaras, foram mais 20 depoimentos, uma produção muito importante para esses tempos de desinformação, vejam só:

Este podcast foi produzido por Barbara Maria, Cibele Porfírio e Vitor Hugo
Com a participação de  Ana, Cibele, Kido, Tiago, Vitor.... e muitos mais

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Entrevista Samara Sosthenes

No dia 21 de julho de 2021 fizemos a a segunda entrevista coletiva, com a convidada Samara Sosthenes, co-vereadora da mandata coletiva Quilombo Periférico, ela partilhou um pouco de sua história, lutas, as ideias, receitas e participou do novo quadro chamado navalhando, tá demais, vem ver: 

 

 Produção e roteiro por Alex Sandro e Kido Panontim.

 Até o próximo!

terça-feira, 27 de julho de 2021

Entrevista com Andreza Alves

 No encontro do dia 20 de julho fizemos no Centro Cultural Olido a nossa primeira entrevista e contamos com a participação da Andreza Alves, mana daqui da leste, arquiteta e paisagista, uma prosa pra lá de boa sobre plantas, gatos, patrimônios e muito mais, vem ouvir..


Produzido por  Barbara Maria, Cibele Porfirio, Kido Panontim, Mariah Dayane e Vitor Hugo