Por Sheyla Melo
Em uma pesquisa rápida no site de buscas mais conhecido do mundo sobre dois espaços públicos que sofreram prejuízos ano passado, temos os seguintes dados: um deles é o incêndio que aconteceu no Museu da Língua Portuguesa em dezembro de 2015, nós temos aproximadamente 145.000 resultados em 0,61 segundos. A mesma pesquisa sobre o destelhamento ocorrido pelas chuvas do mesmo fim de ano na biblioteca Municipal Cora Coralina já é de aproximadamente 121 resultados em 0,70 segundos. São 145 mil publicações sobre um e apenas 121 para outro.
Esses dados nos revelam duas maneiras de dar atenção para uma situação muito parecida, tirando alguns importantes detalhes, a situação é que são dois espaços públicos que possibilitam ao público o contato com o saber acumulado pela humanidade, um focado nas questões da língua e outro na questão da mulher, um extremamente importante para o outro.
Os detalhes importantes: em um espaço o incêndio comprometeu parte do museu, mas esforços e dinheiro público o reconstruíram e ele já esta em funcionamento há tempos e o outro, o destelhamento, que teria uma solução aparentemente mais rápida ainda permanece da mesma maneira, quero eu acreditar que isso não é conspiração machista, mas é no mínimo injusto.
Outro aspecto importante é a questão geográfica, aqui em Guaianases temos apenas duas bibliotecas e dois CEU’s que não comportam a demanda dos mais de 170 mil habitantes. E muitas ausências, nenhum Centro Cultural, uma Casa de Cultura que existe só no papel, zero teatros, nenhum museus e poucos espaços de arte/cultura, realidade muito diferente das regiões centrais.
Vale recordar que no ano de 2015 muita coisa não pode acontecer na Cora Coralina devido à reforma no espaço para a tematização para o feminismo, demorou muito e em tão pouco tempo pudemos desfrutar de um espaço feminista e lá esta ela fechada agora, uma tematização que aconteceu por esforços das lutas de grupos atuantes na biblioteca.
A biblioteca Cora Coralina foi a primeira que teve uma programação cultural noturna para trabalhadores poderem participar, o Sarau da Maloca, organizado pelo grupo Arte Maloqueira, também a primeira que teve um sarau feminista organizado por mulheres, com Sarau Junte-se na Luta e a primeira biblioteca municipal feminista da América Latina.
Pela construção da identidade feita ao longo dos anos, pela sua simbologia na luta feminista e por sua importância para a periferia, a biblioteca Cora Coralina fechada por tempo indeterminado me parece um desrespeito com a luta e com as pessoas que aqui vivem. Queria eu que a mesma importância dada ao Museu da Língua Portuguesa fosse também dado aos poucos, mas importantes, espaços das quebradas e ainda queria acreditar que não existe uma guerra de classes, mas ela está aí e a cada situação como esta fica nítido sua presença e os prejuízos infelizmente ficam para aqueles que pouco tem privilégios.
Por tudo isso, o que nos resta é continuar em luta!