terça-feira, 12 de abril de 2016

Espaços culturais e as suas permanentes contradições.

Um breve relato sobre o descaso com a biblioteca Cora Coralina
Por Sheyla Melo


Em uma pesquisa rápida no site de buscas mais conhecido do mundo sobre dois espaços públicos que sofreram prejuízos ano passado, temos os seguintes dados: um deles é o incêndio que aconteceu no Museu da Língua Portuguesa em dezembro de 2015, nós temos aproximadamente 145.000 resultados  em 0,61 segundos. A mesma pesquisa sobre o destelhamento ocorrido pelas chuvas do mesmo fim de ano na biblioteca Municipal Cora Coralina já é de aproximadamente 121 resultados em 0,70 segundos. São 145 mil publicações sobre um e apenas 121 para outro.

Esses dados nos revelam duas maneiras de dar atenção para uma situação muito parecida, tirando alguns importantes detalhes, a situação é que são dois espaços públicos que possibilitam ao público o contato com o saber acumulado pela humanidade, um focado nas questões da língua e outro na questão da mulher, um extremamente importante para o outro.


Os detalhes importantes: em um espaço o incêndio comprometeu parte do museu, mas esforços e dinheiro público o reconstruíram e ele já esta em funcionamento há tempos e o outro, o destelhamento, que teria uma solução aparentemente mais rápida ainda permanece da mesma maneira, quero eu acreditar que isso não é conspiração machista, mas é no mínimo injusto. 

Outro aspecto importante é a questão geográfica, aqui em Guaianases temos apenas  duas bibliotecas e dois CEU’s que não comportam a demanda dos mais de 170 mil habitantes. E muitas ausências, nenhum Centro Cultural, uma Casa de Cultura que existe só no papel, zero teatros, nenhum museus e poucos espaços de arte/cultura, realidade muito diferente das regiões centrais.

Vale recordar que no ano de 2015 muita coisa não pode acontecer na Cora Coralina devido à reforma no espaço para a tematização para o feminismo, demorou muito e em tão pouco tempo pudemos desfrutar de um espaço feminista e lá esta ela fechada agora, uma tematização que aconteceu por esforços das lutas de grupos atuantes na biblioteca.

A biblioteca Cora Coralina foi a primeira que teve uma programação cultural noturna para trabalhadores poderem participar, o Sarau da Maloca, organizado pelo grupo Arte Maloqueira, também a primeira que teve um sarau feminista organizado por mulheres, com Sarau Junte-se na Luta e a primeira biblioteca municipal feminista da América Latina.

Pela construção da identidade feita ao longo dos anos, pela sua simbologia na luta feminista e por sua importância para a periferia, a biblioteca Cora Coralina fechada por tempo indeterminado me parece um desrespeito com a luta e com as pessoas que aqui vivem. Queria eu que a mesma importância dada ao Museu da Língua Portuguesa fosse também dado aos poucos, mas importantes, espaços das quebradas e ainda queria acreditar que não existe uma guerra de classes, mas ela está aí e a cada situação como esta fica nítido sua presença e os prejuízos infelizmente ficam para aqueles que pouco tem privilégios.

Por tudo isso, o que nos resta é continuar em luta!