Por Sheyla Melo
Foto de Reinaldo Canato/Folhapress |
A lei 10.639/03, fruto de luta dos movimentos negros, obriga o ensino da história geral da África e da história da população negra no Brasil, infelizmente, ainda não está plenamente executada, é minoria as escolas que trabalham o tema, segundo o vereador e presidente da SINPEEM, Claudio Fonseca, a escola reproduz a sociedade, logo os preconceitos e discriminações que estão no corpo social aparecem também nas escolas, isso seria uma das explicações sobre porque ainda muitas crianças e adolescentes saem das escolas sem saber a história da África e sua própria história.
Nas periferias é grande o número da população negra ou afrodescendente, sendo mais da metade da população em alguns bairros que se declaram negros e também esses mesmos bairros têm os maiores índices de genocídio desta população, mortes que ocorrem pela repressão do estado, em muitas vezes pela ação policial e por falta de acesso às políticas públicas, sendo assim o silenciamento escolar não só gera desinformação, mas também não aceitação de traços, da cor da pele, do cabelo crespo, naturalização de discriminações, diversas violências e além de perpetuar o racismo.
A educação tem a tarefa de contribuir para a construção de uma nova sociedade e essa só será possível com um posicionamento crítico diante desta realidade, as leis não mudam mentalidades, mas garantem um marco na busca por garantia de direitos.
Outra lei tramitando no congresso para o silenciamento de assuntos importantes é a escola sem partido que busca pôr fim às ideologias políticas, partidárias, de gênero, ideias de cunho marxista, também falar de manifestações e passeatas durantes as aulas, nos quais os professores são vigiados e podem ser punidos, na verdade é uma mordaça para o corpo docente, Fonseca se posicionou sobre a lei escola sem partido e para ele é uma lei que torna a escola sem sentido.
Alega que “até para as pessoas que negam o conhecimento é necessário se aportar dele”, as contradições são importantes, não podendo ser ignorado o acúmulo de conhecimento gerado pela humanidade e também discutir os assuntos que estão acontecendo na atualidade. Ainda segundo ele a presença de um vereador indo fiscalizar as escolas é uma atitude "policialesca".
Já que acessar os conhecimentos acumulados pela humanidade é tão importante, a África também deveria estar com uma atenção especial, já que lá as grandes explorações vindas do “primeiro mundo” estruturaram boa parte do seu desenvolvimento, destaco aqui alguns exemplos: no conhecimento de infraestrutura, enquanto a população da Europa morria com a peste bubônica, na África existia o Egito com uma avançada organização de irrigação e esgoto. Enquanto as mulheres eram tratadas como acessórios em boa parte do mundo, na África tinha, e ainda tem, a estrutura matrilinear com grandes guerreiras como a Rainha N’Zinga, líder de exércitos e com muita estratégia saiu vitoriosa diversas vezes, a palavra ginga significa habilidade. E de pessoas que tinham as técnicas de manipulação de metais para construir templos, objetos sagrados, estátuas e este mesmo saber quando chegou na Europa construiu canhões.
Por tanto, meninos e meninas têm direito a uma escola que permita a reflexão e acesso aos conhecimentos fiéis a história e a sua realidade, as leis não geram esse posicionamento do professor, mas podem estruturar toda uma política pública para que ela aconteça, isso também faz a escola ter sentido.
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